Esta semana, estreou nos Estados Unidos o terceiro filme da saga Terrifier. O longa do palhaço Art já é considerado um sucesso, mesmo antes de completar uma semana em cartaz.
O filme é um slasher puro; afinal, contém todos os elementos que definem o gênero, como a Final Girl, o assassino carismático e os personagens descartáveis, que estão lá apenas para preencher a cota de mortes e sangue.
O slasher tem uma relação cíclica com o cinema, alternando entre momentos de grande popularidade e períodos de declínio, para depois voltar renovado. Essa oscilação acontece muito por conta da forma como o gênero se adapta às mudanças culturais e às expectativas do público ao longo dos anos.
Pode-se dizer que o primeiro filme considerado slasher foi Psicose (1960). Embora não seja um slasher puro (algo que suas continuações certamente são), ele estabelece alguns dos elementos que se tornaram comuns no gênero, como o assassino psicopata e o suspense crescente. No entanto, foi em Halloween (1978) que o gênero alcançou seu primeiro grande auge. A trama simples, o assassino marcante e a trilha sonora inesquecível fizeram do filme um sucesso de bilheteria.
Cerca de dois anos depois, veio Sexta-Feira 13 (1980), um filme que, apesar de ser uma cópia de Halloween com elementos de Psicose, apresentou Jason Voorhees—mesmo que ele não seja o verdadeiro vilão do primeiro filme. Jason talvez seja o personagem mais icônico dos slashers.
A fórmula simples e eficiente de ambos os filmes atraiu grandes audiências, especialmente os jovens, tornando o slasher um sucesso de bilheteria. Durante esse período, dezenas de filmes seguiram o mesmo padrão, criando um subgênero com regras próprias: a “final girl” que sobrevive, o assassino implacável, os jovens imprudentes e outros clichês.
Em 1984, tudo mudou com o lançamento de A Hora do Pesadelo, dirigido por Wes Craven. Nesse filme, Freddy Krueger, um assassino que ataca suas vítimas em seus sonhos, introduz um elemento sobrenatural ao gênero. Freddy se destaca por sua personalidade sarcástica e aparência macabra, com sua pele queimada e a famosa luva de lâminas. Esse filme trouxe uma nova dimensão ao slasher, explorando o medo do sono e a incapacidade de escapar dos pesadelos.
A partir de meados da década de 1990, o gênero começou a perder força. O público se cansou da previsibilidade dos filmes de slasher, e o subgênero foi se saturando com continuações e cópias sem inovação. Filmes como Halloween 6 e Sexta-Feira 13 – Parte 8 exemplificam como o gênero perdeu sua originalidade, levando a uma queda de interesse do público e da crítica.
No entanto, Wes Craven, o mesmo que havia reinventado o slasher com Freddy Krueger, o fez novamente em 1996 com Pânico. O filme revitalizou o gênero ao subverter suas convenções e se tornar autoconsciente, brincando com os clichês do slasher enquanto os homenageava. Pânico trouxe de volta o interesse pelo gênero, iniciando uma nova onda de filmes que combinavam terror com uma abordagem metalinguística e humor, como Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997) e Prova Final (1998).
Porém, alguns anos depois, o gênero voltou a declinar. Nos anos 2000, o público passou a buscar novas formas de terror, como o torture porn (Jogos Mortais, 2004) e o terror sobrenatural (Atividade Paranormal, 2007), que dominaram as bilheterias na segunda metade da década.
Nos últimos anos, o slasher voltou a ganhar força com a onda de revivals que tomou conta de Hollywood. Filmes como Halloween (2018) e Pânico (2022) atualizaram o gênero para refletir novas sensibilidades e preocupações contemporâneas. Nesse retorno, o slasher se reinventa, explorando temas mais profundos, como traumas, envelhecimento e até questões sociais, enquanto mantém o terror visceral que o caracteriza.
Além dos revivals, o slasher também enfrenta uma nova onda com produções como a saga Terrifier (2016 – presente) e a trilogia X (2022-2024), que prestam homenagem aos clássicos, resgatando a brutalidade que marcou o gênero.
Um dos motivos do sucesso de ambos os filmes dentro desse nicho é, sem dúvida, a presença de seus antagonistas carismáticos. Terrifier apresenta Art the Clown, um vilão que rapidamente se tornou um ícone do terror contemporâneo. Sua presença marcante, aliada ao comportamento sádico e à ausência de diálogos, cria um personagem aterrorizante, que remete aos grandes antagonistas dos slashers clássicos.
Por outro lado, a trilogia X traz Pearl, uma figura complexa e perturbadora, que, embora não seja um vilão típico, simboliza a fragilidade da linha entre a fama e a loucura. Ambos os personagens desafiam as expectativas do público, trazendo novas formas de terror e uma complexidade emocional inesperada.
Outro aspecto que une esses filmes à nova geração de slashers é o compromisso com uma estética visual autêntica e uma produção que remete ao passado do gênero. Terrifier utiliza efeitos práticos que evocam a brutalidade dos slashers dos anos 80, enquanto X combina uma cinematografia vintage com uma narrativa moderna. Essa fusão de estilos não apenas proporciona uma experiência visual rica, mas também apela à nostalgia dos fãs mais velhos, ao mesmo tempo em que atrai uma nova geração de espectadores.
Com a recepção calorosa desses filmes e a proliferação de novas produções, o slasher parece ter encontrado seu lugar nas telas novamente, prometendo continuar a surpreender e chocar as novas gerações de fãs do terror.