Em novembro de 2019, a Netflix lançou um filme que tornou-se sucesso na plataforma. O Poço foi, sem dúvidas, foi alvo de grandes questionamentos após seu roteiro gerar muitas dúvidas sobre o seu significado.
O filme espanhol, dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, relata as dinâmicas de poder e sobrevivência em uma prisão vertical. Em duplas, os prisioneiros são separados em cada andar e devem permanecer durante um mês naquele espaço até serem trocados de nível. Há uma plataforma de comida que vai descendo pelos andares para que os presos possam se alimentar. É um verdadeiro banquete (ou não), depende de que nível você se encontra.
O sucesso de “O Poço” gerou uma expectativa alta para sua continuação, lançada em outubro de 2024. Apesar de manter a mesma premissa claustrofóbica e crítica social do primeiro filme, “O Poço 2” opta por uma narrativa diferente, focando em uma nova dinâmica entre os prisioneiros e a introdução das leis de Revolução Solidária.
Essa nova abordagem tenta promover uma ideia de igualdade na distribuição de comida, mas acaba não esclarecendo as questões deixadas em aberto na primeira parte. O enredo traz personagens novos, como Perempuán e Zamiatin, e embora alguns personagens do primeiro filme façam breves aparições, as conexões entre as duas obras são limitadas.
O filme mergulha em temas de justiça social e a luta pela sobrevivência, mas mantém o tom confuso e aberto a interpretações, sem fornecer respostas concretas sobre o sistema prisional ou o significado das crianças presentes em algumas cenas.
Em termos de execução, a obra não consegue capturar a mesma intensidade da primeira, tornando-se repetitiva e cansativa. Apesar de contar com um elenco talentoso, a falta de desenvolvimento dos personagens compromete o envolvimento emocional do público. A atuação conta com interpretações que transmitem o desespero e a luta interna de cada um diante de um sistema implacável. O protagonismo é compartilhado, permitindo que diferentes vozes e perspectivas sejam ouvidas, o que enriquece um pouco a narrativa.
Visualmente, O Poço 2 mantém a estética sombria do primeiro filme, utilizando a iluminação e os cenários para criar uma atmosfera sufocante. A trilha sonora é igualmente eficaz, e intensifica momentos de tensão e desespero. Os efeitos especiais e a direção de arte contribuem para a imersão no mundo distópico da história, criando um ambiente que é ao mesmo tempo fascinante e muito perturbador.
Apesar do filme ter alguns méritos, há momentos em que a trama pode parecer lenta, especialmente na construção de certas subtramas. Algumas resoluções podem deixar o espectador com a sensação de que as questões levantadas não foram totalmente exploradas, o que pode frustrar aqueles que esperam um desfecho mais contundente.
A trama poderia ter se beneficiado de um maior aprofundamento nas histórias pessoais dos personagens, permitindo uma reflexão mais completa sobre suas experiências e dilemas éticos. O diretor opta por uma abordagem mais abstrata, focando na dinâmica de poder entre os ocupantes do poço. Porém, essa escolha pode frustrar aqueles que estão buscando um entendimento mais claro das razões que levam cada personagem a esse destino trágico.
A crítica social subjacente é indiscutível, mas a falta de nuance nas narrativas individuais prejudica a experiência do espectador, transformando questões importantes em apenas especulações. A ausência de respostas sobre a origem do sistema e a arbitrariedade das punições faz com que o filme, embora visualmente impactante e repleto de metáforas poderosas, se sinta totalmente incompleto e duvidoso.
