Quando saiu o primeiro trailer de Sorria 2, mostrando o cenário do filme, todo mundo especulou como seria esse novo capítulo. Eu incluso. Uma popstar e seus milhares de fãs pelo mundo são o banquete perfeito para criatura. Se isso se realiza ou não, vou deixar para quem decidir assistir. Mas posso adiantar que o filme de Parker Finn reinventa a mitologia do filme anterior numa construção ainda mais ousada e assustadora.
A protagonista desta vez é a cantora Skye Riley, belissimamente interpretada pela Naomi Scott, um ano após um trágico acidente tirar a vida de seu namorado e deixá-la incapacitada de assumir os palcos novamente. Agora ela tenta reerguer sua carreira e imagem pública com uma nova turnê, mas como era de se esperar, ela é infectada pela mesma criatura do primeiro filme.
Skye é uma dessas personagens complexas de filmes de terror, com um passado dolorido e mais do que mil motivos para se odiar. A vítima perfeita. O acidente foi só um dos fatores que quase destruíram sua carreira e vida. Já no começo do filme, ela conta sobre as suas dificuldades com o vício em drogas. A Naomi Scott entrega uma incrível atuação no papel, invocando todas as nuances de uma pessoa perturbada externa e internamente. Em dúvida de si, mas também cheia de potencial, não fossem as circunstâncias ou consequências de suas ações, ela se arrisca em um mundo que a pressiona constantemente para dar o seu melhor. Nesse contexto, realmente é bem fácil imaginar onde o filme vai. No entanto, será mesmo?
Existe uma certa magia em histórias que prendem a atenção do seu espectador ao fazê-lo duvidar de tudo e para quem já está familiarizado com o parasita de Sorria, não vai estranhar os truques mentais, as mentiras e principalmente os sorrisos desconcertantes. Caminhamos ao lado de Skye em sua rota para a completa loucura, vendo cada um dos passos ser mais doloroso que o anterior, se criando uma constante atmosfera de dúvida e confusão, onde espectador pode continuar se perguntando o quanto daquilo é real, ou pelo menos real o suficiente. Esses momentos são constantemente marcados por muitos, mas incrivelmente efetivos, jumpscares, que nos fazem prender a respiração por alguns instantes.
Por mais que seja uma boa estratégia para manter a atenção, o uso excessivo de jumpscares talvez seja uma das fraquezas do filme. A maioria deles é bem construída, sendo quase impossível vê-los vindo e se preparar para o susto. Mas mais interessante que eles, é o que segue, a tensão sobe mais uma vez e olhamos para a cena com ainda mais dúvida do que antes. Estas cenas, que também existem no seu antecessor, são o ápice do terror do filme, com um medo que perpassa o psicológico e o gore, com cenas violentas e potencialmente desconfortáveis.
Porém, alguns desses momentos pós-jumpscares não são tão interessantes quanto o diretor pensa ser. Eles se estendem para além do assustador e se tornam, eventualmente, constrangedores, perdendo um pouco do ritmo estabelecido até então. É o tipo de cena que a gente começa se surpreendendo e termina achando que foi longa demais.
A partir da segunda metade do filme, é quase possível entender onde ele pretende chegar, e é no mesmo lugar que o longa anterior. Essa repetição de tramas é, no entanto, subvertida pelas constantes reviravoltas pelas quais os personagens passam. A insanidade de Skye vai escalando constantemente, tornando os acontecimentos cada vez maiores, mais constrangedores e problemáticos que os anteriores, porém, guiados para um final que não condiz com eles. Talvez seja um fruto da escolha narrativa, onde o real e irreal se misturam, que possibilitam que a trama siga qualquer rumo sem muitas consequências. No entanto, isto pode deixar um gosto ruim na boca dos espectadores.
Mais do que uma continuação, Sorria 2 pode ser visto como um testemunho a sua própria mitologia, uma evolução do que já foi criado e uma obra a ser lembrada. Diante do caos da vida de Skye, ele ainda encontra momentos para ser divertido, mas sem se aprofundar tanto na psiquê de sua personagem. Uma pena, visto que esta é a proposta da criatura.
